NEP lança Cátedra Paulo Freire da Amazônia

 
Diálogo, conscientização, oralidade e atitude política para transformação social. São os conceitos-chave da obra do filósofo e pedagogista brasileiro Paulo Freire (1921-1997), discutidos durante a XIII Jornada Paulo Freire, realizada nestas quarta e quinta-feira, 15 e 16, no Auditório do Centro de Ciências Sociais e Educação da Universidade do Estado do Pará (CCSE/Uepa). A Jornada é promovida pelo Núcleo de Educação Popular (NEP), que também realizou o lançamento da Cátedra Paulo Freire da Amazônia, a primeira da região Norte. 
 
O tema da jornada deste ano é O legado de Paulo Freire para a educação brasileira e amazônica e busca iniciar um debate sobre as possibilidades de pensar a educação na Amazônia e sobre a obra do filósofo, referência no pensamento social e educacional contemporâneo. Esse debate continuado será feito principalmente a partir da Cátedra, um grupo interinstitucional coordenado pela Uepa, composto também pela Universidade Federal do Pará (UFPA), Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Universidade Federal do Amapá (Unifap), Instituto Universidade Popular (Unipop) e Instituto Federal do Pará (IFPA).
 
Durante a mesa de abertura do evento, a coordenadora do NEP, Ivanilde Apoluceno de Oliveira, explicou que a criação da Cátedra Paulo Freire da Amazônia é um marco para os pesquisadores da região e foi bem recebida pelas redes freirianas já existentes no Brasil, formadas por outras cátedras e grupos de pesquisa. “Temos de pensar o que nos motiva a continuar estudando e pesquisando Freire, vivenciando Freire nas nossas práticas pedagógicas: as situações de exclusão social e as diferenças que não são respeitadas. Precisamos criar práticas mais humanistas, mais solidárias e lutar politicamente por uma melhor educação. Esse é o papel da Cátedra”, afirma a coordenadora do NEP.
 
No primeiro dia do evento, o auditório estava lotado, com integrantes de movimentos sociais, professores, pedagogos, pesquisadores, estudantes da UFPA e da Uepa. O mestrando em Ensino de Matemática da Uepa, Diego Cunha, conta sobre o interesse pela obra freiriana. “Vim para saber mais sobre o Paulo Freire, visto que o conhecimento dele contribui conosco. Acho importante nós o discutirmos, por ser um autor conhecido mundialmente. Tinha conhecimento da Pedagogia do Oprimido e vou participar dos dois dias do evento para saber mais”. A estudante da Licenciatura em Letras da Uepa, Nagela Henrique, fala que existe uma necessidade de se discutir melhor Freire dentro da Universidade. “O que me trouxe foi o fato de muitos discentes não estarem se dedicando à metodologia de ensino. Muitos se formam e não têm métodos. Vim para entender o método freiriano, para estabelecer essa comunicação entre professor e aluno, essa interação em sala de aula”, comenta a discente.
 
Os contextos amazônicos, vistos no Brasil como regiões periféricas, passam a ser pensados como heterogêneos e repletos de desafios à educação. Na teoria de Freire, a educação é um ato político de resistência às opressões, de formação e conscientização dos sujeitos. De acordo com a doutoranda em Educação pela UFPA e professora pela Rede Estadual de Educação, Joana Machado, as diferenças formam as populações da Amazônia e devem ser trabalhadas no âmbito das práticas pedagógicas. “Pensar Paulo Freire, para nós professores da escola pública, é ter em mente a perspectiva dialógica da visibilização dos sujeitos históricos e políticos da região Amazônica. Conhecemos pouco a nossa história e não sabemos quem somos. Vivemos ainda o mito da caboclice, do moreno; estamos há anos, na nossa educação, aprendendo os feitos da Inglaterra, da França, mas quando vamos estudar as outras matrizes étnicas que formam a população brasileira, os africanos e os indígenas, não sabemos nada. Então, quando Freire propõe que olhemos e problematizemos essa realidade, é na perspectiva de transformá-la”, declara Joana.
 
Nessa perspectiva, o tema da Educação Popular é uma concepção pedagógica formulada por Freire, com ações que vão além das academias e buscam intervir na educação e nos problemas sociais. O NEP desenvolve atividades de Ensino, Pesquisa e Extensão no âmbito da Educação Popular, desde 2002, a partir das concepções do filósofo. “Desenvolvemos ações em espaços comunitários, espaços escolares e não-escolares, no sentido de inclusão social e da educação para emancipação, empoderando as camadas populares, pensando uma educação compartilhada,  para a humanização, que passa pela valorização da cultura popular e dos saberes tradicionais e distintos das populações da Amazônia, nossa realidade, que deve ser pensada em sua singularidade”, afirmou o pesquisador do NEP, João Colares Neto.
 
A jornada continua até o dia 16 e ainda contará com mesas redondas, lançamentos de livros de pesquisadores da Uepa. A programação completa está disponível no site da Jornada.
 
Texto: Sergio Ferreira Junior
Foto: Nailana Thiely