Conferência debateu psicanálise e gênero no CCSE

 

O psicanalista Alan de Paula ministrou a Conferência “Psicanálise, Gênero e Lugar de Fala”, na sala de recitais do Centro de Ciências Sociais e Educação, da Universidade do Estado do Pará (Uepa), hoje, 05 de dezembro. O evento marcou o encerramento das atividades deste ano do Grupo de Pesquisa em Psicanálise e Educação, coordenado pelos professores Oneli Gonçalves e Iracildo Castro. A abertura do evento teve a apresentação de voz e violão dos discentes de Licenciatura em Música, Juliana Guimarães, Diego Castro e Sâmela Cristina.

De acordo com Alan de Paula, tradicionalmente as questões de gênero perpassavam pela definição de homem e mulher, e o que fugisse a isso era considerado patológico. Entretanto, na atualidade as discussões estão na ordem do dia, devido à reivindicação de direitos civis, como o casamento e a adoção de crianças por pessoas homoafetivas, por exemplo.

O ambiente educacional também é arena de discussão sobre a temática. A inclusão escolar de crianças transgênero nos Estados Unidos, tem provocado resistência e a consequente retirada de outros alunos pelos pais, para que não tenham contato com esse grupo de pessoas. O conferencista também destacou as lutas políticas de movimentos sociais frente ao pavor moralista religioso e científico.

“A homossexualidade tinha inserção social desde a Grécia Antiga e também há indícios de que era presente nas sociedades indígenas pré-coloniais. A moral religiosa trouxe o olhar da perversão e o advento da ciência, o significante de doença patológica”, explicou. Para ele, apesar dos avanços ainda existem 76 países em que homossexualidade é considerada crime, sendo que em 13 deles é aplicada pena de morte ou prisão perpétua.

Alan explicou que a leitura do ponto de vista da psicanálise vai além da binaridade que indicam cromossomos XX relativo às mulheres e XY, aos homens. Sigmund Freud propôs que a sexualidade é perversa e multimorfa, ou seja, é movida pela pulsão e visa objetos que satisfaçam o prazer. Depois de Freud, outros estudiosos deram continuidade ao pensamento, como Jacques Lacan, para quem a relação sexual é intermediada pela fantasia.

No decorrer da conferência, Alan de Paula, discorreu sobre o papel da análise para descontruir o sujeito a partir do que é consciente e inconsciente. “É como se o ser humano fosse um computador que vem com programas e configurações instaladas, que nem ele mesmo conhece. A psicanálise auxilia a enxergar o que veio de fábrica, compreender como funciona, e as possibilidades de instalação de outros programas”, comparou.

Para a coordenadora do Grupo de Pesquisa, Oneli Gonçalves, a discussão do tema é necessária. “Os conflitos da questão de sexualidade e de gênero são atuais e presentes nas nossas vivências, por isso o grupo pensou em trazê-las para esta atividade de encerramento. É importante para o trato adequado com os alunos de graduação em sala de aula, quanto para orientar a condução deles nas escolas, quando atuarem na licenciatura”, explicou.

O vice-coordenador, Iracildo Castro, destacou o trabalho desenvolvido pelo grupo, em um ano de funcionamento. “Somos cerca de 20 membros e buscamos discutir nossas pesquisas a partir do olhar de Freud e Lacan. As pesquisas nos auxiliam nas disciplinas e no Serviço de Apoio Psicólogico (SAP), que dá atenção aos discentes. Foi um ano de trabalho muito proveitoso e estamos abertos a novos participantes”, comemorou. O grupo se reúne às quartas-feiras, ao meio dia, na sala do Departamento de Psicologia do CCSE.

Texto: Dayane Baía

Fotos: Nailana Thiely