Uepa forma novos professores indígenas pelo Parfor

 

Na região do Baixo Tapajós, no Oeste do Pará, homens e mulheres se enfeitam com pinturas tradicionais. É dia de festa para os concluintes do curso de Licenciatura Intercultural Indígena vinculado ao Plano Nacional de Formação de Professores (Parfor) da Universidade do Estado do Pará (Uepa). Nas cerimônias, o cocar, símbolo de todo o saber ancestral, dará lugar também ao capelo indicando que os formandos passam a deter, do mesmo modo, o conhecimento acadêmico. As solenidades de outorga de grau iniciaram no dia 7 de junho com a turma Wai-Wai, em Oriximiná e seguem até hoje à noite, 9, com a formatura da turma Tapajós-Arapiuns- Santarém. Cada território etnoeducacional reúne integrantes de diversas etnias.

Gedeão Arapiuns está entre os formandos e atuará em Ciências Humanas e Sociais. “É uma conquista importante para a afirmação da nossa identidade e para propagar os nossos direitos. Por muito tempo nós sofremos preconceito por não termos o ensino superior”, afirmou. Ele é o orador da turma de Santarém e se preparou com antecedência para a cerimônia, cujos ritos solenes são adaptados para respeitar a cultura tradicional, desde o canto de entrada, a execução do hino e os pronunciamentos em língua indígena e em língua portuguesa. “Sabíamos que não seria fácil, como realmente não foi e nunca será. Romper o preconceito e encarar a mais nobre das lutas em defesa dos direitos indígenas e garantir a formação foi odesafio aceito por cada um. Muitas foram as dificuldades enfrentadas, muitos desistiram ou pensaram em desistir, mas nossa união nos fortaleceu”, escreveu no discurso. 

Para a coordenadora do curso, Joelma Alencar, a Universidade ultrapassa os próprios muros para ir às aldeias cumprir seu papel social de educação. “É uma oportunidade para os professores viverem o contexto das comunidades e formar docentes qualificados para atuar nas escolas indígenas, estabelecendo o diálogo do saber tradicional com o conhecimento acadêmico. A formatura é a conquista dos alunos por todo o esforço em superar as distâncias e os desafios para estar em sala de aula. Significa a celebração da luta do movimento indígena, em prol da qualidade escolar dos povos tradicionais.”, afirmou.

Nessas formaturas são graduados 22 indígenas, em Santarém, e 36, em Oriximiná. A celebração da turma Wai-Wai teve uma vitória ainda mais especial porque não houve nenhuma desistência entre os matriculados no início do curso. Nem a distância fez os discentes abdicarem dos estudos. Morando em aldeias localizadas na fronteira com a Guiana Inglesa, alguns precisavam enfrentar dias de viagem para assistir as aulas.  

Esta também é a primeira conclusão de turmas interculturais do Parfor, isto é, todos os formandos já atuam em sala de aula no Ensino Fundamental das suas aldeias de origem. De acordo com a coordenadora do Parfor na Uepa, Kátia Melo, com essa oferta o Pará é pioneiro ao estender a modalidade de ensino para os povos indígenas. “Estamos no caminho da descolonização do saber, hoje os professores vão ao encontro dos alunos e não o contrário. A experiência foi apresentada em Brasília em um encontro nacional e os colegas ficaram impressionados com a capacidade da Uepa em buscar, se deslocar e se abrir para o conhecimento tradicional. ”, afirmou.

Para os indígenas, os planos para o futuro são muitos. A realização de voltar para as escolas com o diploma na mão é uma vitória, mas eles querem ir além e já almejam prosseguir os estudos em pós-graduação. O desejo foi manifestado formalmente à coordenação do curso e do Parfor, que em resposta, está tramitando a demanda para a implantação de cursos de especialização indígena no Parfor Norte.

 

Texto: Dayane Baía

Fotos: Nailana Thiely