Edital selecionará professores para projeto de educação warao

 

O projeto de educação indígena warao foi apresentado, ontem, 12 de junho, ao Ministério Público Federal e gestores das instituições envolvidas, entre elas a Universidade do Estado do Pará (Uepa); as Secretarias de Estado de Assistência Social, Trabalho, Emprego e Renda (Seaster); e de Educação do Pará (Seduc). Na véspera, os últimos detalhes foram alinhados com os imigrantes venezuelanos, que participaram ativamente da construção da proposta junto ao grupo de trabalho formado por órgãos estaduais, municipais e não governamentais coordenados pelo pelo Núcleo de Formação Indígena (Nufi) da Uepa.

Seguir em frente. Esse é o significado do termo Kwarika Nakuri que dá nome ao projeto. “Buscamos considerar as leis nacionais e internacionais que garantem os direitos indígenas, como a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho”, explicou Joelma Alencar, coordenadora do Nufi. As aulas devem começar ainda esse mês e preferencialmente no Bosque Rodrigues Alves e na Escola Estadual Dom Pedro II, que fica no bairro da Pedreira. O curso será dividido em ciclos de formação, considerando a faixa etária dos indígenas, e de conhecimento, em que serão ministradas disciplinas em torno de Política Linguística; Sustentabilidade Econômico-Financeira; Migração e Direitos Humanos; e Cultura e Meio-Ambiente.

O procurador da República Felipe de Moura Palha disse considerar que o melhor mecanismo para o estabelecimento dessa parceria seja a assinatura conjunta de um Termo de Concretização de Direitos Humanos. “Isso vai garantir que essa iniciativa tenha continuidade, independentemente da ocorrência de alterações na composição dos integrantes das instituições envolvidas”, explicou.

Para o reitor da Uepa, Rubens Cardoso, a reunião mostrou que há uma convergência de interesses entre as instituições, e que essa formalização do trabalho conjunto “será essencial para evitar a superposição de ações e para garantir a sinergia necessária, possibilitando que as soluções sejam construídas ao longo do processo”.

A diretora de Educação da Semec, Dorvalina Bastos, ressaltou que no diálogo entre as instituições envolvidas será preciso considerar o atendimento de qualidade às crianças de zero a dez anos de idade, para garantir a prestação do serviço de modo adequado.

Edital – A Seduc publicará edital para a seleção de 10 professores para o projeto, e que terá 50% das vagas reservadas para os próprios warao. O anúncio ocorreu em primeira mão para os indígenas, no dia 11 de junho. O processo seletivo também contratará docentes licenciados em Língua Portuguesa com habilitação em espanhol. “Para além do bilinguismo, tivemos experiência com indígenas brasileiros. Agora o português será a língua estrangeira então há um diferencial muito grande e um desafio maior ainda”, explicou a Núlcia Azevedo, coordenadora de Educação de Jovens e Adultos da Seduc.

O projeto renova as esperanças de quem saiu do país natal em busca de melhores condições de vida. “Particularmente, sou muito grato por esse momento e por todas as pessoas que tem dedicado tempo para nos apoiar. O projeto é muito importante para nós, porque temos crianças, jovens e adultos que querem seguir estudando. Dói esse contexto que estamos vivendo, com as mulheres nas ruas. Com o projeto poderemos nos profissionalizar e ter outra via de sustento”, declarou o imigrante Freddy Cardona.

Integrante do primeiro grupo que chegou a Belém em setembro de 2017, José Cedeño mora em um espaço no bairro do Comércio, com outros indígenas. “Antes de Belém, passamos por Manaus e lá nos sentimos um pouco frustrados porque o projeto de educação não foi desenvolvido. Estou mais confiante de que essa proposta pode mesmo nos ajudar”, ansiou.

O amigo dele, Jesús Paredes, conta que logo na chegada ao país deparou-se com a necessidade de se comunicar em português, que junto ao espanhol e a língua materna warao, será aperfeiçoado no projeto. Durante a reunião, Paredes atuou como intérprete e falou da importância dos três idiomas para a sua autonomia. “Como tenho um conhecimento sobre a minha própria cultura e língua, isso ajuda a fazer um intercâmbio”, analisou. Pela desenvoltura, ele e mais cinco warao foram escolhidos pela comunidade a atuar como professores de aspectos culturais.

Por já ter estudado antes, Omar Sifontes está entre os eleitos. “Estou muito feliz e grato, pois nunca pensei que poderia ser escolhido pela minha própria comunidade”, afirmou. “Eles poderão passar a mitologia, tradição e valores, sobretudo, para as crianças, se não daqui a pouco elas perdem a referência de suas raízes”, explicou o venezuelano José G. Albarrán Lopez, que também trabalhou como intérprete junto à Seaster.

 

Texto: Dayane Baía com informações da Ascom do MPF

Fotos: Nailana Thiely