Série Setembro Amarelo: o desafio de romper o silêncio

 
 
Neste mês de Setembro, dedicado à prevenção ao suicídio, a Assessoria de Comunicação (Ascom) produziu a Série Setembro Amarelo, com matérias especiais sobre o assunto. Nesta primeira reportagem, aborda-se o tema central do debate, sob o ponto de vista de uma psicanalista.
 
O suicídio, tema sensível, complexo e tabu na sociedade, vem residindo ao longo do tempo em uma espécie de casulo. Esse envoltório, ao que tudo indica, também vem abrigando famílias, amigos, igrejas, parentes e vizinhos em um completo silêncio. Porém, na calada desse falso sossego, 32,3 brasileiros morrem por suicídio ao dia no país, segundo estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS). Apesar de ser uma taxa alarmante, a mesma instituição traz um dado relevante: 90% desses casos poderiam ser evitados com ajuda psicológica.
 
Então, romper o silêncio ainda é forma mais eficaz para combater esse problema. Mas, como fazer isso ou quem procurar para resolver essa questão? Antes de responder a essa pergunta é importante contextualizar o tema. Para a coordenadora do Serviço de Apoio Psicológico e Pedagógico (Sapp), da Universidade do Estado do Pará (Uepa), Oneli Gonçalves, o suicídio pode ser definido como um ato deliberado pelo sujeito cuja intenção é a morte. “Mesmo que a sociedade não queira falar sobre o suicídio, nós devemos abrir essa discussão, seja na igreja, na universidade ou na comunidade”, destaca.
 
Não dar a devida atenção ao problema do suicídio é grave, já que a taxa de jovens de 15 aos 19 anos que atentam contra própria vida cresceu 33,5% entre 2002 e 2012, como indica dados divulgados pelo Mapa da Violência, do Ministério da Saúde. Por isso, alguns sinais devem ser observados, entre eles, pessoas que sofrem de depressão, esquizofrenia, bipolaridade, transtornos de humor, sofrimento psíquico grave, impulsividade e momentos de desesperança.
 
No entanto, as causas para o suicídio são multifatoriais, sendo resultado de uma complexa relação de fatores psicológicos, biológicos, genéticos, culturais e socioambientais. “Isso serve para nós pensarmos que não há uma única causa. Quando uma pessoa tenta se suicidar significa que ela já passou por um processo de adoecimento grave e, às vezes, nem a família e os amigos percebem. Normalmente, os familiares não conseguem enxergar que existe uma causa anterior para esse momento de sofrimento”, explica a professora Oneli Gonçalves.
 
Em 2015, a OMS divulgou que a taxa de mortalidade entre pessoas de 15 a 29 anos por suicídio já é maior do que o número de óbitos causados pelo vírus HIV. O fato do quadro depressivo não ser tão facilmente identificável como a da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA/AIDS) ou de doenças cancerígenas exige certa sensibilidade por parte dos profissionais da saúde. Os sintomas suicidas requerem mais atenção aos sentimentos, atitudes e formas de se relacionar com o outro.
 
Em relação aos fatores protetores, especialistas indicam o vínculo social como elemento protetor da vida. Pessoas que possuem vínculos familiares, profissionais e amorosos têm menor propensão a cometer suicídio. Isso ocorre porque a solidão, quando associada ao quadro clínico da depressão e da desesperança, pode ocasionar no indivíduo um sentimento de isolamento e, às vezes, de comportamento pré suicida.
 
Dessa forma, debater esse problema é uma forma de encorajar as pessoas a romper a barreira do silêncio e procurar por ajudar. A preferência, nesses casos, é sempre buscar por tratamento especializado. “O ideal é a pessoa ser ouvida por um profissional, porque ao falar sobre determinado sofrimento, ela vai estruturar esse sentimento numa narrativa do que pode estar acontecendo. Além disso, não devemos dar lição de moral para pessoas que estejam assim. Você deve sempre ouvir o sujeito, capitar a essência e levá-lo para receber ajuda profissional. A recomendação é sempre procurar ajuda”, alerta a coordenadora do Sapp.
 
Tratar o suicídio como problema de saúde pública é fundamental. O poder público, por meio das atribuições civis, administrativas e sociais, tem o dever de qualificar os profissionais da saúde e realizar ações educativas e preventivas, a exemplo da campanha nacional do Setembro Amarelo. A iniciativa, promovida pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), Conselho Federal de Medicina (CFM) e Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), vem conscientizar sobre a importância da prevenção do suicídio.
 
ONDE PROCURAR AJUDA
 
- Serviço de Apoio Psicológico e Pedagógico (Sapp)
Local: Bloco I (Térreo), do Centro de Ciências Sociais e Educação (CCSE);
Horário: 8h às 12h e 14h às 18h, de segunda a sexta-feira;
Telefone: (91) 988243324;
Próxima ação: dia 20 de setembro, no campus de Vigia; Tema “suicídio: informação para prevenir”.
 
- Centro de Valorização da Vida (CVV)
Local: Condomínio do Edifício Infante de Sagres, sala 404, rua Senador Manoel Barata, 718, Comércio;
Telefone: 141 / 3223-0074
 
 
Texto: Marcus Passos
Fotos: Nailana Thiely