Pedagogia Bilíngue é esperança de educação mais inclusiva

 

O curso de Pedagogia Bilíngue do Centro de Ciências Sociais e Educação (CCSE) da Universidade do Estado do Pará (Uepa) teve sua primeira aula no último sábado, 10. Entretanto, diferente dos demais cursos que também iniciaram suas atividades, a Pedagogia Bilíngue chega para preencher uma lacuna histórica: a inclusão de alunos surdos em todos os níveis de ensino.

Fruto de uma parceria entre a Uepa e o Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines), o curso é realizado em diversos polos pelo Brasil, na modalidade de Ensino à Distância (EAD). A Universidade é a única estadual pública do país participante do projeto, o que revela os esforços da gestão em prol da educação inclusiva. Para proporcionar aos alunos a estrutura necessária, o Centro inaugurou ainda em 2017 a sala Revoluti, que traz como principal novidade o conceito de um computador por estudante, para viabilizar as aulas, contidas na plataforma do curso online.

Para quem trabalha há décadas com o ensino especial, o momento foi de emoção. A coordenadora do curso na Uepa, Joaquina Nogueira, tentou conter as lágrimas no início da primeira aula. “Esse curso é um marco para o Brasil. É o primeiro em perspectiva bilíngue e sem dúvida um projeto muito relevante para o futuro da educação de surdos. Estamos construindo as bases para um ensino mais inclusivo. É uma pedagogia das diferenças”, resumiu ela, que ressaltou ainda o protagonismo da Uepa na inclusão.

No sábado, 31 alunos e 9 tutores celebraram o começo de uma nova história. Tiago Costa é o único tutor surdo do grupo, por ter sido o único inscrito. Formado pela Uepa, o rapaz de gesticulação rápida lembrou que a conquista não veio sem luta. “Foram anos até chegarmos aqui. Com essa formação, poderemos criar um ambiente propício para as pessoas surdas na escola, além de valorizar a Língua Brasileira de Sinais (Libras)”, observou. Ele elogiou ainda a estrutura física ofertada pelo Centro. “O ambiente é muito importante para o aprendizado”, concluiu.

O professor da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra) e aluno de Pedagogia Bilíngue, José Sinésio Filho, também se formou no curso de Letras – Libras da Uepa e hoje atua em outra instituição. Ele acredita que a oferta do curso deveria se estender para mais universidades, pois a demanda é grande. “Há muito tempo esperamos por isso. Minha esperança é que depois de formados, possamos ser multiplicadores deste conhecimento em diversas esferas da sociedade. A questão de acessibilidade ao ensino é muito importante para uma boa parcela da população. Sinto-me muito honrado de compor esta turma”, elogiou.

O diretor do CCSE, Anderson Maia, participou da aula inaugural e anunciou novidades para a comunidade surda do Centro. “Nosso objetivo é fazer um campus completamente acessível para todos. Fizemos diversas adaptações, mas temos um caminho pela frente. Em breve, lançaremos o projeto Sinalário, que identificará todos os espaços do campus e o cardápio do Restaurante Universitário em Libras e, futuramente, em braile. Ainda este ano lançaremos o cursinho preparatório do Enem para surdos, tudo isso visando melhorar as chances de aprovação deles em todos os cursos”, prometeu.

 

Texto e fotos: Fernanda Martins/Ascom CCSE