Confluência de rios e saberes em pesquisa de IC realizada por estudantes da Uepa

 
O projeto foi executado por alunos de Engenharia Ambiental e Sanitária e Engenharia Florestal, entre setembro de 2021 e agosto de 2022.

Desenvolvida por alunos de engenharia da Universidade do Estado do Pará (Uepa) em Marabá, a pesquisa intitulada Áreas de preservação permanente e seus benefícios aos cursos d'água em comunidades de povos tradicionais no sudeste do Pará, foi indicada pela Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (Propesp) à 20ª edição do Prêmio Destaque na Iniciação Científica e Tecnológica, na categoria Bolsista de Iniciação Científica, nas áreas das Ciências Humanas e Sociais, e Letras e Artes. A premiação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), em parceria com a Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), busca estimular bolsistas de Iniciação Científica (IC) e de Iniciação Tecnológica (IT), "cujos relatórios finais se destacam pela relevância e qualidade, e as instituições que contribuíram para alcançar os objetivos do programa", conforme afirma o CNPq.

A pesquisa indicada pela Uepa, que agora concorre em âmbito nacional, já foi premiada no XI Seminário de Integração Científica, organizada pela Propesp. O objetivo do estudo foi analisar a importância da Área de Preservação Permanente (APP) da confluência do Igarapé Vermelho com o rio Tocantins, no município de Itupiranga. Os estudantes-pesquisadores investigaram sobre benefícios da APP aos cursos d´água, à biodiversidade, à organização social e à produção dos camponeses da Comunidade Diamante, localizada no sudeste paraense. Nesse sentido um dos aspectos de destaque diz respeito ao fato de associar os conhecimentos relacionados à condição física do meio ambiente, com o aspecto humano, que também integra uma perspectiva ambiental, sobretudo no que se refere à produção.

Beatriz Sarges, aluna bolsista da Uepa do cursos de Engenharia Ambiental e Sanitária, Ana Hatalia, bolsista CNPq do curso de Engenharia Florestal, e os alunos voluntários da pesquisa Edina Almeida e Samuel Lisboa, ambos estudantes de Engenharia Ambiental da Uepa, foram os responsáveis por toda a pesquisa, que contou com o professor Airton Pereira, como orientador do projeto, rememoram a trajetória do projeto: “ele foi executado entre setembro de 2021 a agosto de 2022, mas, na realidade iniciou bem antes, porque tivemos o tempo de construção, reuniões da equipe do projeto antes da submissão e contatos preliminares com a associação dos ribeirinhos da Comunidade Diamante, locus da pesquisa”, conta Ana Hatalia.

A água é de fundamental importância para a preservação da floresta nativa e o termo confluência refere-se ao ponto de junção entre dois fluxos d'água para formar um novo rio. A pesquisa destaca a importância de uma Área de Preservação Permanente e seus benefícios aos cursos d 'água na comunidade, visto que as populações ribeirinhas dependem da pesca, do cultivo de roças e do plantio de espécies frutíferas como atividades produtivas essenciais à subsistência. No caso da Comunidade Diamante, a produção "só é possível devido à fertilidade da terra, consequência dos benefícios das APPs, pois a vegetação fornece estabilidade ao solo, através das raízes de suas plantas, evitando a erosão e o impacto das chuvas sobre a plantação. As raízes contribuem na porosidade, assim, a compactação é menor e a absorção da água para os lençóis freáticos é melhor", conforme o relatório da pesquisa.

Os alunos utilizaram como estratégia de pesquisa o estudo de caso e a história oral, pesquisas bibliográficas e documentais, além de visitas à comunidade para levantamento das culturas cultivadas pelos camponeses, que foram fundamentais para o mapeamento do rio Igarapé Vermelho e da APP com o auxílio do uso de imagens de satélite orbital. Beatriz Sarges detalha que as visitas à comunidade foram os grandes desafios para coleta de informações. “Enfrentamos desafios significativos relacionados à logística de deslocamento até a comunidade Diamante, localizada em Itupiranga. Como as entrevistas foram iniciadas durante o período chuvoso, foi difícil chegar à comunidade para conduzir as entrevistas", afirma a estudante.

Experiências da iniciação à pesquisa científica

De acordo com Ana Hatalia, “outros desafios foram com relação à apropriação do referencial teórico e metodologia. Para a execução deste projeto, eu e meus colegas da equipe tivemos de ler uma série de trabalhos sobre Áreas de Preservação Permanente, sobre povos e comunidades tradicionais, agricultura familiar e sobre a metodologia da história oral. Esta metodologia foi nova para nós. Então, junto com o nosso orientador, estabelecemos um calendário de leituras e discussões”.

Historiador e professor de metodologia científica da Uepa, Airton Pereira atuou como orientador da pesquisa, e viu em sua disciplina uma maneira de refletir e ampliar o seu leque de análises sobre a preservação ambiental no Pará. “Foi uma experiência muito boa, muito interessante e ao mesmo tempo desafiadora, porque embora eu seja familiarizado um pouco com a temática, sou da área de Humanas, que acaba tendo um olhar um pouco diferente dos pesquisadores das Ciências Florestais ou Agrárias. Como professor dessa disciplina, preciso ajudar os alunos a conhecerem métodos e técnicas de pesquisas que possam ajudá-los em seus processos de pesquisa”, explicou o professor.

De acordo com o CNPq, "nesta edição, o Prêmio conta com uma nova categoria, o de Bolsista de Iniciação Científica Júnior e um aumento no valor da premiação das categorias Bolsistas de Iniciação Científica e Bolsista de Iniciação Tecnológica, passando de R$ 7 mil para R$ 10 mil. Para cada uma das categorias - Bolsista de Iniciação Científica, Bolsista de Iniciação Tecnológica e Bolsista de Iniciação Científica Júnior, serão premiados até três bolsistas, sendo um para cada grande área do conhecimento - Ciências da Vida; Ciências Exatas, da Terra e Engenharias; e  Ciências Humanas e Sociais, Letras e Artes". Os bolsistas vencedores das categorias Bolsistas de Iniciação Científica e Bolsista de Iniciação Tecnológica além de receberem o valor em dinheiro, também receberão bolsas de mestrado ou de doutorado e diplomação.

“O sentimento de ter minha pesquisa indicada para o Prêmio Destaque na Iniciação Científica e Tecnológica a nível nacional é de grande satisfação e reconhecimento. É uma honra ter o trabalho reconhecido em um nível tão alto, o que me faz sentir que o esforço e dedicação investidos na pesquisa valeram a pena. Além disso, é uma grande motivação para continuar a desenvolver projetos de pesquisa relevantes e de alta qualidade no futuro, contribuindo assim para o avanço da ciência e tecnologia em nosso país”, conclui Beatriz.


Texto: Messias Azevedo (Ascom Uepa)

Fotos: Arquivo do Projeto