Setembro Amarelo no Campus X ultrapassa os muros da Universidade

 
Bolsistas do NAE, na Uepa em Igarapé Açú, engajados na programação
 
Na Universidade do Estado do Pará (Uepa), em Igarapé-Açú, a programação dedicada ao mês de prevenção ao suicídio será realizada até o dia 30, com uma série de 15 podcasts sobre diversos temas relacionados aos multifatores que podem acarretar em uma situação de suicídio. A iniciativa faz parte do projeto de extensão A Universidade como Espaço de Reflexão para Saúde Mental, que se propõe a promover o diálogo com a comunidade acadêmica e com a sociedade civil sobre a temática de prevenção ao suicídio e à valorização da vida. Os podcasts podem ser acompanhados no canal da Uepa Campus X, no YouTube, e também poderão ser ouvidos na Rádio Companheira FM, no município de Igarapé-Açú.
 
Como protagonistas da ação estão alunos que receberam a Bolsa de Incentivo Acadêmico do Núcleo de Assistência Estudantil (NAE) da Uepa. Eles ficaram responsáveis pela produção dos podcasts, sob a supervisão da coordenação pedagógica do Campus X. "Como as atividades presenciais estavam suspensas e esses estudantes não estavam frequentando o campus, essa foi uma forma que nós encontramos para que eles se envolvessem em uma atividade que promovesse essa ação que leva a universidade para além dos muros", explica a coordenadora Claudene Cruz, que idealizou a programação junto com os bolsistas e a coordenação geral do Campus. 
 
Laércio Souza, aluno do curso de Pedagogia produziu o programa de áudio sobre a temática de isolamento, que irá ao ar no próximo dia 16. Ele relata que além de pesquisar sobre o assunto, fez uma divulgação para encontrar pessoas que aceitassem ser entrevistadas. "Eu pretendo comunicar que muitas vezes o isolamento social é consequência de algum problema mental. Dessa forma, os ouvintes poderão compreender que quando alguém se isola socialmente há um motivo, o qual precisa ser tratado com um profissional de saúde", explica Laércio.
 
A coordenadora pedagógica Claudene Cruz reassalta que um dos objetivos do projeto de extensão é combater o suicídio no meio acadêmico. Nesse sentido, o estudante Rick Silva Barbosa, que cursa Matemática no Campus X da Uepa, defende a importância de contar com uma assistência psicológica na Universidade. Na avaliação dele, "cada pessoa precisa compartilhar esses conflitos, angústias e frustrações que sente e falar alivia a carga emocional no nosso sofrimento". Quando sentiu que estava entrando em um quadro depressivo, o estudante procurou o serviço de atendimento psicológico do NAE. "Eu não conseguia falar com ninguém e foram colegas meus que falaram na parceria do NAE com o Centro de Atenção PsicoSocial (Caps) do município. Então, foi de suma importância a Universidade nesse momento que foi tão difícil para mim, porque  através dela eu consegui ter esse acompanhamento psicológico, que já tem dois anos", conta.  
 
A psicóloga Mayra Lima Rodrigues, que desde o mês de julho tem atuado no atendimento presencial no NAE, participará da live intitulada Contribuição da Universidade para Prevenção ao Suicídio: Falar é a Melhor Solução, no YouTube do Campus. Ao abordar o pensamento suicida, ela destaca a necessidade de se "compreender que muitas vezes não há um único fator que leva ao suicídio. Podem existir os gatilhos na vida de uma pessoa, de um universitário, que acabam gerando pensamentos depressivos, comportamentos depressivos, de forma que esses pensamentos vão piorando ao longo do tempo e vão resistir os gatilhos durante este período, para que a pessoa chegue a consumar o suicídio", explica.
 
Especificamente em relação à vida universitária, Mayra Rodrigues exemplifica gatilhos como as dificuldades de interação social, de participar de eventos. "A pandemia foi um fator que contribuiu muito para que os alunos não vivenciassem essa interaação entre si e surgiram os gatilhos. Durante a pandemia aconteceram muitas mortes, doenças e isolamento. Houve muitas situações de violência doméstica, negligência e conflitos dentro de casa, porque as famílias passaram a ficar mais em casa. Ou seja, a pandemia também trouxe muitos gatilhos a nível de família e a impossibilidade de interação. Isso favoreceu comportamentos depressivos e muitas vezes gerou o suicídio", detalha a psicóloga, ao relacionar a situação com o contexto pandêmico ainda vivido.
 
Setembro Amarelo 
 
A instituição do mês de prevenção ao suicídio ocorreu em 2014, por iniciativa da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), que organizaram nacionalmente o Setembro Amarelo. E o dia 10 deste mês é, oficialmente, o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, mas a recomendação é de que a campanha seja realizada  durante todo o ano.
 
De acordo com os dados informados no site Setembro Amarelo, "são registrados mais de 13 mil suicídios todos os anos no Brasil, mais de 1 milhão no mundo e cerca de 96,8% dos casos de suicídio estavam relacionados a transtornos mentais. Em primeiro lugar está a depressão, seguida do transtorno bipolar e abuso de substâncias".
 
O CFM disponibiliza o acesso gratuito à cartilha Suicídio: Informando para Prevenir, que pode ser acessada aqui.
 
 
Texto: Guaciara Freitas (Ascom Uepa)
 
Fotos: Acervo (Uepa Campus X)