Dia da Universidade: histórias e experiências

 
Neste Dia da Universidade é importante lembrar que, além do ensino, a instituição é composta por pesquisa científica e extensão universitária.

 

Cabeças raspadas, trotes de calouros sujos de ovo e trigo, comemorações de famílias que celebram, orgulhosas, uma conquista, ainda são, para muita gente, as imagens mais próximas de uma referência em direção à universidade. Ou seja, a ideia de estudantes que passam no vestibular e ingressam no ensino superior e de lá saem como profissionais formados. Mas, neste 18 de janeiro, Dia da Universidade, é importante lembrar que nem só de ensino se faz uma universidade. Contemporaneamente, uma universidade é constituída por outras duas dimensões essenciais para a sociedade: a pesquisa científica e a extensão universitária.

Sempre associada à ideia de conhecimento, a origem desta instituição remonta à Antiguidade, com “escolas” como a Academia de Platão, a Stoa dos filósofos estóicos, o Liceu de Aristóteles ou, posteriormente, com a Biblioteca de Alexandria, tida como um dos maiores centros de produção de conhecimento da Idade Antiga. Já no século XI, o ambiente cultural da cidade de Bolonha, favoreceu a criação da Universidade de Bolonha, em 1088, reconhecida como a primeira universidade do mundo ocidental.

Junto com a universidade surgiram práticas como a divisão do conhecimento em áreas, e princípios, como a liberdade de cátedra. Ao mesmo tempo, o reforço de uma concepção elitista, que ao longo dos séculos restringiu o acesso ao conhecimento. No Brasil, autores como Marcos Tarciso Masseto consideram que o início do ensino superior se deu a partir de 1808, com a Escola de Direito em Olinda (PE), a de Medicina em Salvador (BA) e a de Engenharia no Rio de Janeiro (RJ). Na Amazônia, a primeira universidade surge no contexto de desenvolvimento econômico, financeiro e cultural do ciclo da borracha, no Amazonas. A instituição foi estabelecida em janeiro de 1909 como Escola Universitária Livre de Manaus e em 1913 foi denominada Universidade de Manaus, até 2002 quando se tornou Universidade Federal do Amazonas.

Já na Amazônia paraense, a Universidade do Estado do Pará (Uepa) foi instituída em 18 de maio de 1993, a partir da fusão de faculdades estaduais de Enfermagem, Medicina, Educação Física e Educação. De lá para cá, a Uepa atua em três grandes áreas: Saúde, Educação e Tecnologia. Às vésperas de completar 30 anos, possui campus em 11 regiões de integração de um dos maiores estados da federação e também se faz presente em locais onde não possui unidades próprias, por meio de projetos ou programas de formação como Parfor e Forma Pará. Com diferenciais como a existência de cursos de graduação e pós-graduação voltados às populações indígenas, por exemplo, a Uepa busca contribuir com a mudança no perfil tradicional dos estudantes universitários. 

Mas, é principalmente por meio das ações de extensão universitária que as universidade chega junto da sociedade, por meio de projetos que muitas vezes levam às pessoas algum tipo de serviço ou resultado gerado no âmbito da pesquisa. Durante a pandemia de Covid-19, ficou evidente esse papel das universidades. No caso da Uepa, ela se fez presente em pesquisas com diversas abordagens relacionadas ao cenário estadual, ajudou a construir medidas, abriu postos de vacinação e continuou cuidando das pessoas que sofreram com alguma sequela da doença. Para além disso, a universidade se faz presente na vida das pessoas em momentos nos quais elas talvez nem percebam, como quando fazem uma visita ao Planetário do estado. Assim, por vários caminhos, a universidade busca superar o desafio de existir, contribuir para o desenvolvimento em sentido amplo e efetivamente fazer parte de realidades.

Visão de estudantes

“Uma instituição fundamental na minha vida em vários aspectos”. Assim, Arielly Jorge, 22 anos, estudante do oitavo período de Ciências Sociais, define a importância da Universidade do Estado do Pará em sua trajetória. Foi na Uepa que Arielly teve a oportunidade de aprender mais sobre a sua profissão. “Pude ter uma visão mais sensível sobre o que é lecionar no estado do Pará e como ter uma abordagem mais próxima aos meus alunos”, afirmou. O Curso de Ciências Sociais propõe a formação de profissionais com competências e habilidades para atuar na licenciatura, mais especificamente nas áreas da Sociologia, Antropologia e Ciência Política.

A partir da vivência no espaço acadêmico, Arielly aumentou seu engajamento social, possibilitando uma troca de conhecimentos frutífera, tanto para a estudante quanto para a instituição. “A universidade mudou meu modo de pensar, mas, a partir da construção de debates sobre negritude, corpos LGBTQIA+ e mulheres, a Uepa também foi modificada com essas discussões”, ressalta.

O fato de Arielly ter cursado uma universidade pública permitiu, segundo ela, a tomada de consciência sobre variados debates que, inclusive, permitiram que outras pessoas da comunidade em que mora “se sentissem capazes de fazer parte deste espaço”. “Sou uma jovem moradora do Tapanã e chegamos a desenvolver ações neste bairro a partir de relações estabelecidas com estudantes da própria universidade”, completa.

Estudar na Uepa possibilitou que a aluna do quinto semestre do curso de Medicina do Campus XII, de Santarém, Amanda Colares, criasse grandes amigos e participasse de projetos que expandiram suas experiências. A jovem de 27 anos integra a Liga Acadêmica de Pediatria do Oeste do Pará (Laped), a Liga Acadêmica de Endocrinologia e Metabologia do Oeste do Pará (Laemop), a Federação Internacional de Associações de Estudantes de Medicina (IFMSA) e faz parte da Associação Atlética Acadêmica de Medicina do Oeste do Pará (Brutamed).

“A instituição agrega na minha formação justamente por isso, porque além das aulas da grade curricular tradicional, também tenho acesso a ações elaboradas pela ligas das quais faço parte”, afirma Amanda, que também já participou da organização de cursos, como o de atualização em Ressuscitação Cardiopulmonar Pediátrica e Neonatal, elaborado em parceria com alunos de Medicina, Fisioterapia e Enfermagem, sob a supervisão da professora Milene Duarte. “A Uepa é a minha segunda casa”, diz ela, devido ao amplo envolvimento com as ações desenvolvidas na universidade.

Em Cametá, o campus XVIII da universidade é a sede da Alligare, empresa júnior de Tecnologia de Alimentos, Química e Biologia. É formada por alunos da graduação e, desde 2017, presta consultorias, apoio técnico e desenvolvimento de estudos e projetos na área alimentícia, química e biológica por investimentos acessíveis. A estudante de Ciências Biológicas, Gabriela Siqueira, atua como diretora financeira da empresa há pouco mais de um ano e acredita que a experiência universitária já transformou a sua perspectiva profissional: "Eu acredito que a Alligare me preparou para o mercado de trabalho de uma forma espetacular. Hoje eu conheço os percalços de entrar em um mercado de trabalho e sei como me portar", destaca também apontando que o seu lado profissional está mais maduro. "Sei que o empreendedorismo é importante. Eu sou licencianda e tendo a ser professora, mas eu sei que vou ter a capacidade, caso o meu caminho siga para o empreendedorismo, de saber atuar na área", ressalta ao pensar sobre a preparação da instituição para os alunos, em diversas áreas profissionais.

Texto: Guaciara Freitas e Monique Hadad (Ascom Uepa)

Fotos: Laís Teixeira (Arquivo Ascom Uepa) e Marília Jardim (Ascom Uepa)