Programação do Dia da Consciência Negra mobiliza público do Planetário

 
Oficina de Abayomi, com os alunos da Escola Professor Virgilio Libonati

O Centro de Ciências e Planetário da Universidade do Estado do Pará (Uepa) aproveitou o mês da Consciência Negra e organizou ações referentes ao tema nos dias 19 e 20 de novembro, nos espaços do Planetário. Com oficina Abayomi, sessões extras na cúpula, apresentação de Poesia Marginal e live sobre o movimento da negritude como ação política de enfrentamento ao racismo, o evento contou com a participação de visitantes das cidades de Belém, Ananindeua e Marituba.

O momento foi pensado de forma colaborativa entre a direção do Centro de Ciências e Planetário do Pará (CCPPA), a Assessoria Pedagógica e o diretor de Extensão da Uepa, Aiala Colares, com o intuito de democratizar espaços de educação não formal,p através de projetos de extensão da universidade. “Em reunião levantamos a importância de se refletir sobre esse processo de conscientização”, disse a diretora do Planetário, Acylena Coelho, que também reforçou a necessidade de manter ações nesse sentido, pois amplia a possibilidade de pessoas visitarem novos espaços de educação. “Dessa forma, propiciar formações e estabelecer novas práticas e formatos institucionais como assembleias populares, fóruns, entre outros, pode auxiliar a democratizar os espaços de educação não formal”, concluiu Acylena.

Para entrar no Planetário foi necessário que os interessados se inscrevessem e reservassem as vagas. Dessa forma, foi mantido o controle no número de visitantes. No total foram 260 vagas ofertadas e 80% desse público participou presencialmente. 

Oficina Abayomi

Convidada pela Coordenação Pedagógica do Planetário, a professora formada em Pedagogia e em Ciências da Religião, com especialização em Gestão Escolar e Tecnologias para Educação Ambiental pela Uepa, Elaine Queiroz, ministrou, com alguns monitores do CCPPA, a oficina de bonecas Abayomi para alunos da Escola Estadual de Ensino Fundamental Professor Virgílio Libonati. 

Segundo a professora, a história das bonecas tem duas versões. A primeira é que as bonecas de pano Abayomi foram criadas originalmente por Lena Martins, artista e artesã natural de São Luís do Maranhão na década de 1980, em oficinas nas comunidades do Rio de Janeiro. A segunda é que as Abayomi foram criadas por mães africanas que arrancavam tecido de suas saias para acalentar as crianças no navio negreiro. Sobre a segunda versão, Elaine afirma que nem todos acreditam. “Algumas pessoas acreditam ser uma lenda. A própria Lena Martins não acredita nessa história, já afirmou que se fosse mãe dessas crianças preferia jogá-las no mar”, disse a professora. 

A oficina ocorreu durante a manhã da última sexta-feira, 19. Ao todo foram 16 crianças participantes. "Foi muito bom poder contar com um espaço físico diferente da sala de aula. Percebi que os alunos ficaram alegres, se sentiram valorizados, até porque muitos só conhecem o bairro onde moram (Terra Firme). Quando souberam que iam levar as bonequinhas para casa, inclusive falaram logo quem iam presentear. Foram bastante participativos, pois todos interagiram e confeccionaram os bebês Abayomi”, relatou a professora. 

A monitora de Biologia do Planetário, Beatriz Melo, 21 anos, também participou da oficina e disse que o momento foi de muita aprendizagem. “A oficina foi bastante interessante e proveitosa. A professora trabalhou levando um pouco da história do povo negro nos séculos passados, e principalmente das mães negras, além de desenvolver um pouco mais nas crianças as noções de respeito, amor ao próximo, solidariedade e a criatividade ao possibilitar que eles mesmos pudessem produzir suas próprias abayomis”, contou. 

Apresentação de Poesia Marginal e Hip-hop

No dia 19, à tarde, foi organizada uma sessão extra na Cúpula Kwarahy com apresentação de Poesia Marginal e hip-hop, da artista e pedagoga formada pela Universidade Federal do Pará (UFPA), Shayra Mana Josy. Ela visitou, pela primeira vez, o Centro de Ciências e Planetário do Pará e disse estar maravilhada com o lugar. “Eu, que transito em muitos lugares,  imagina como as crianças e adolescentes devem se sentir”, falou. Para a artista é muito interessante que o Planetário volte a atender o público presencialmente com essa nova proposta educativa. 

“Principalmente pela sua estrutura, qualidade e quantidade de materiais que podem ser explorados pelos docentes, já que nas escolas públicas, em sua maioria, não temos esses recursos didáticos. Essa parceria com a Universidade do Estado veio mostrar a importância da extensão e do ensino. Fiquei muito feliz que meu contato nesse espaço inicialmente tenha se dado em uma data muito simbólica, que é o mês da Consciência Negra, mostrando que o espaço está aberto a todos os públicos sem distinção”, analisou.
 
Mana Josy declamou e cantou sobre empoderamento feminino, racismo, preconceito e demonstrou alegria ao participar da ação. “Soube que essa programação, essa proposta de levar uma mulher de identidade negra do movimento hip-hop, foi inédita e para mim foi muito gratificante. Eu via no semblante das pessoas que minha poesia, meu rap, os temas tratados neles eram importantes e necessários”, comentou Mana Josy. 
 
A pedagoga do Planetário, Alice Sousa, falou sobre a importância de escolas e centros de educação trabalharem essas temáticas. “O Centro de Ciências e Planetário do Pará tem a missão de levar conhecimento à população paraense e nesses dias pensamos em uma programação diversificada ao público, ressaltando sempre a importância da cultura negra e a resistência desses povos numa sociedade excludente e branca”, falou.
 
Visita do público em geral
 
Já no sábado, 20, foram ofertadas 180 vagas para a comunidade em geral. Visitantes de Belém, Ananindeua e Marituba se inscreveram e puderam conhecer o Planetário do Pará. Houve três sessões na cúpula, sendo a primeira para o público infantil, a segunda para o público juvenil e a terceira para os adultos.
 
Tammy Sara é professora de Química e visitou o Planetário pela primeira vez acompanhada do filho, Thalles Gabriel Oliveira, de 10 anos. Em poucas palavras ela resumiu a experiência: “Legal,  super acessível e estimuladora”, disse. Thalles também gostou da visita. Segundo a mãe, “ele amou, principalmente o Show da Química porque a explicação e os experimentos foram maravilhosos”, complementou. 
 
Gabriele Coimbra, mestranda em Neurociências e Biologia Celular na Universidade Federal do Pará (UFPA), também levou o filho, Ângelo Nascimento, de quatro anos. Para a estudante é importante introduzir o mundo científico, na vida do filho de forma lúdica.  Gabriele contou que gostou de participar de uma sessão na cúpula com o filho. “Além de uma explicação didática, ainda  proporciona a imersão ao conteúdo por meio dos recursos audiovisuais. Sempre tive vontade de assistir, então poder levar o meu filho foi bem especial’, disse. 
 
Além das sessões na cúpula e do Show da Química, os visitantes conheceram um pouco mais sobre a física e o cosmo. No espaço da Biologia, rochas e esqueletos mostraram a Teoria da Evolução Humana. O espaço da Matemática, cercado de jogos e enigmas numéricos, foi uma passeio para toda a família e para todas as idades. 
 
Jessica Sato, monitora de Biologia no Planetário, disse que os dois dias de programação possibilitaram que mais pessoas pudessem escolher o horário de visitação. “Quem não veio na sexta, pôde vir no sábado. Na sexta-feira foi bom por causa da apresentação de poesia e falas sobre racismos. No sábado, teve as sessões na cúpula e a visita nos espaços, o que é bom também”, analisou  Jéssica.
 

Texto: Sandy Brito (Ascom Uepa)

Fotos: Sandy Brito (Ascom Uepa) e Eduardo Santana (Planetário)